As cidades representam a organização humana mais complexa e é nos espaços urbanos que hoje vive a maioria da população. Também por isso é nelas que se devem tecer as respostas aos problemas de saúde, fazendo convergir as estruturas que tradicionalmente se responsabilizam pela prevenção e pela resposta à doença com aquelas que de forma decisiva podem garantir na comunidade a promoção e a preservação da saúde através de serviços e políticas locais. Adaptando localmente as orientações globais, identificam-se os riscos mais relevantes, valorizam-se as escolhas pertinentes, promove-se eficiência e respeitam-se os valores que fazem a identidade de cada comunidade sem desperdiçar o progresso e a inovação indutora de maior equidade e justiça.
A inspiração do movimento das cidades saudáveis, que desde 1984 foi fortalecendo um movimento que vê a saúde muito para além dos chamados cuidados de saúde, pode traduzir-se num compromisso político em que a polifonia de vozes cidadãs e participativas garanta que todas as partes interessadas se envolvem na visão comum de uma cidade mais saudável e mais amiga, onde se possa viver mais e esses anos de vida ganhos sejam de mais qualidade. Não se favorece, por isso, uma aproximação de especialistas ou uma resposta tecnocrática, mas sim a partilha de desafios e soluções que garanta o sucesso nas metas a atingir.
O plano municipal de saúde que se quer concretizar em Valongo – no conjunto dos problemas que identifica e para os quais propõe uma abordagem comprometida com objetivos internacionalmente consensualizados - tem por base a partilha de preocupações e as parcerias pragmáticas com os setores governamentais e não governamentais, públicos e privados, que fazem viver o município. O seu compromisso é indispensável para garantir que as pessoas estão no centro das preocupações e das soluções, com especial atenção às mais vulneráveis. Integrar a saúde com as restantes políticas e processos de planeamento urbano será a chave do sucesso para atingir as ambiciosas metas propostas.
Com o plano proposto inicia-se uma aproximação original que nos vai ensinar muito sobre como se vive no município, o que o carateriza e o que pode melhorar. Mas fundamentalmente o desenho deste plano pretende contribuir para a concretização de uma iniciativa liderada pelo município que tem como desígnio uma população mais saudável, proporcionando a todos os seus habitantes a melhor saúde física e mental, e valorizando o bem-estar em todos os níveis da sociedade.
Sabemos bem que sociedades mais justas são sociedades mais saudáveis. Contudo, sociedades mais saudáveis contribuirão para mais justiça. Assim, podemos intervir especificamente em alguns aspetos da saúde para com isso conseguir melhorá-la, desse modo diminuir as injustiças e ajudar a percorrer um ciclo virtuoso que favoreça a criação de um capital individual e comunitário em saúde. Que quanto maior melhor nos prepara para enfrentar o futuro.
O presente plano é uma proposta de percurso, pensado com base no conhecimento científico e nas boas práticas, para concretizar a estratégia de um município mais saudável e por isso também mais feliz.
Henrique Barros
Presidente da Direção do Instituto de Saúde Pública
da Universidade do Porto